quinta-feira, 21 de julho de 2011

O papel da expectativa na hipnose

Por Thiago Ferreira - Hipnólogo
  
  Ao longo dos meus anos de prática com hipnose, muitas pessoas têm me perguntado como é possível, com apenas um “estalar de dedos”, obter reações aparentemente incríveis de alguém que acabei de conhecer e estou conversando pela primeira vez. A resposta, muitas vezes, é simples: expectativa.
  A expectativa exerce um papel extremamente importante na prática da hipnose. Todo bom hipnotizador deve conhecer, entender, saber criar e saber utilizar a expectativa.  E deve também entender que criar expectativa já é hipnotizar. Pois uma vez criada a correta expectativa, o sujeito se torna muito mais propenso à aceitação das sugestões hipnóticas, ou seja, se torna muito mais sugestionável, logo, hipnotizado. 
  Um exemplo clássico do papel exercido pela expectativa na hipnose, é a famosa história de uma experiência realizada por hipnotizadores, em que disseram para uma senhora que queria ser hipnotizada, que ela estava para conhecer um famoso hipnotizador, uma autoridade internacional no assunto. E a apresentaram para um sujeito completamente leigo, que não entedia nada de hipnose. E ao ser apresentado a essa senhora, ele agiu como os hipnotizadores instruíram, estalou os dedos e disse “durma”. Ela instantaneamente fechou os olhos e entrou em um “profundo sono hipnótico”. E depois apresentaram a esta mesma senhora um real e experiente hipnotizador, dizendo que este era apenas um aprendiz e que ela deveria colaborar e ter paciência com ele, pois o mesmo nunca tinha hipnotizado ninguém. E apesar dos seus melhores esforços o hipnotizador fracassou. 
  Em apresentações de hipnose de palco é fácil observar o efeito criado pela expectativa. Um hipnotizador de palco habilidoso consegue impressionar facilmente os expectadores e participantes do seu show, deixando-os muito sugestionáveis. E é desse modo que o hipnotizador consegue eliciar fenômenos hipnóticos profundos e em muito pouco tempo.
  A expectativa não é o único fator responsável por respostas positivas à técnicas de hipnose, mas é certamente um dos principais. E essa mesma expectativa não se aplica somente à hipnose de palco, se aplica também à hipnoterapia. É importante que o hipnólogo consiga criar em seu cliente uma expectativa favorável em relação ao processo, seja este, terapêutico, motivacional ou qualquer outro tipo de trabalho que se faça com hipnose. Pois desse modo, além de facilitar o trabalho hipnótico através do aumento da responsividade do cliente, proporcionado pela expectativa favorável, o hipnólogo estará também evitando a possibilidade de auto-sabotagem por parte do cliente. Se o cliente não tem confiança no trabalho hipnótico que está sendo realizado, pode acontecer de se auto-sugestionar de maneira negativa, dificultando desse modo, um trabalho que tem a possibilidade de trazer excelentes resultados.
  Mesmo fora do contexto da hipnose, é fácil observar a maneira como nossas  expectativas nos influenciam. Quando, por exemplo, somos apresentados à alguém depois de nos ser dito algo à respeito dessa pessoa que consideramos ser muito negativo. Se acreditamos no que foi dito, podemos criar uma expectativa ruim em relação à pessoa em questão. E se isso acontece, tendemos a tomar uma postura muito crítica em relação a mesma. Tudo de positivo que esta demonstra, nós não percebemos, ou desconsideramos. Mas qualquer possível detalhe que consideramos negativo em seu comportamento ou personalidade, nós não só percebemos como tendemos a exagerar essa percepção.
  Apesar de eu estar envolvido com hipnose desde criança, durante um certo período da minha vida, em função da minha facilidade natural com números e cálculos, dava aulas particulares de Física e Matemática. E uma coisa que, nessa época, me chamava a atenção, era o modo como pessoas notavelmente inteligentes desenvolviam uma extrema dificuldade de aprendizado em relação, principalmente, à Física. Pelo simples fato de terem sido sugestionadas para terem dificuldade. A grande maioria dos alunos, antes de terem o primeiro contato com a Física, já tinham ouvido, com certa frequência, de pessoas mais velhas e em quem confiavam “o quanto Física é difícil”. Me lembro de um aluno que me contou que seu irmão mais velho costumava dizer: “se você pensa que está tendo dificuldades agora, é porque ainda não começou a ter que estudar Física”.  Este e muitos outros, desenvolveram uma extrema dificuldade, uma limitação, pelo simples fato de terem aceito uma sugestão que gerou uma expectativa negativa.
  Uma vez fui fazer uma apresentação de hipnose para um grupo de jovens universitários, mas eu não sabia que os membros de grupo tinham a intenção deliberada de resistir a qualquer tentativa minha de hipnotizar. Ao iniciar minha apresentação, fiz um pequeno teste de sugestão, para selecionar quem responderia melhor às técnicas que eu pretendia usar. Ao executar o teste, observei que todos responderam de modo negativo. Esta situação incomum, me fez desconfiar do que estava realmente acontecendo. Diante dessa situação, eu decidi usar o “fator expectativa” ao meu favor.
  Falei para as pessoas que eu já tinha feito o teste de que precisava para determinar o perfil da platéia e comecei a andar entre os membros do grupo enquanto olhava intensamente para seus rostos. Então comecei a escolher aleatoriamente, os sujeitos para hipnotizar. E ao escolher alguém, eu dizia, “olhe pra mim”, eu olhava através do sujeito, aguardava uns três segundos e então dizia, “você está pronto(a)”.  Em seguida eu levava o sujeito para frente do grupo e fazia a indução hipnótica. Eu não tinha visto nada de especial em nenhuma das pessoas que escolhi. Mas quando os olhei, do modo como olhei, e disse que estavam prontos, dando a entender que tinha visto algum possível sinal que me indicasse algo, eu criei toda a expectativa de que precisava para hipnotizá-los. Todos os que eu escolhi foram hipnotizados, e eu pude fazer a minha apresentação.
  São incontáveis os exemplos que podem ilustrar o papel que nossas expectativas exercem em nossas vidas. E entender esse papel, nos abre um grande leque de possibilidades, pois nos ajuda a aprender a usar o “fator expectativa” ao nosso favor. Tanto dentro, quanto fora do contexto da hipnose.

8 comentários:

  1. Parabéns pelo seu trabalho e pela iniciativa do Blog!

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  2. Muito obrigado, pessoal!

    Estarei sempre escrevendo coisas novas.

    Grande abraço!

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  3. Nossa, muito interessante essa questão da ansiedade mais conhecida como pré talk né?

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  4. Parabéns Thiago!

    É sempre um prazer ler um texto bem escrito, (ainda mais quando fala de Hipnose! rsrs), fluido e objetivo.

    Novamente, parabéns pelo blog e pelo profissionalismo.

    Abraços.

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  5. Julianojackson

    Muito obrigado! Fico feliz que tenha gostado. E é exatamente isso. A Hipnose começa quando você é apresentado ao sujeito e, as vezes até antes disso.

    Grande abraço!

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  6. Samej Spenser

    Saiba que é recíproco, também gosto muito do que você escreve.

    Grande abraço!

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  7. Parabéns pelo artigo, Thiago!
    Também considero a expectativa um fator importante no transe hipnótico...
    Na verdade, a expectativa é um pré-transe, certo?

    Abraços e sucesso sempre!!!

    Valdecy Carneiro

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  8. Muito obrigado, Valdecy!

    Fico muito feliz que tenha gostado.

    Exato! Criar expectativa já é, de certa maneira, hipnotizar.

    Grande abraço!

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